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A ilusão dos preconceituosos



O filme A Amarga Sinfonia de Auschwitz, disponível na Netflix, usa a dor dos bastidores de um campo de concentração feminino para falar dos fenômenos sociais que envolvem os sentimentos de identidade, exclusão, pertencimento e preconceito.


O longa foi mencionado durante o evento do Migração em Debate, do dia 1 de fevereiro, quando abordado o tema Preconceito. A narrativa retrata a vida e convivência de musicistas judias que foram levadas para esse campo de concentração com o intuito de tocar para soldados alemães ou para vítimas a caminho da morte.


Mais um filme de guerra, esse retrata com sensibilidade o íntimo dos sentimentos de exclusão e inclusão social, quando mostra as moças da orquestra discutindo sobre quem é melhor ou pior, de acordo com sua influência judia e misturas étnicas. É triste e revelador assistir aos diálogos das mulheres, todas fadadas a morrerem carbonizadas, mas se julgando acima de outras baseadas na quantidade de sangue judeu ou na nacionalidade. A de origem alemã, por exemplo, se sente superior porque é judia mas ariana.


Parece absurdo, mas se repete todos os dias no jogo de quem quer entrar na panelinha, de quem consegue e quem fica de fora. Grupos de migrantes se acham melhores que outros de distintas nacionalidades, negros mais claros melhores que os mais escuros. Brasileiros que vivem na Suíça e que se sentem estrangeiros melhorados porque dominam o idioma ou porque vêm de um país, que em suas cabeças, não é considerado inferior.


Na hora de pertencer a um grupo mais privilegiado, as pessoas criam inúmeras categorias para se sentirem incluídas, mesmo que não tenham sido aceitas no clube. Mas não se engane, fora do Brasil você é estrangeiro, nem mais nem menos – com todas as vantagens e desvantagens que a condição pode trazer. Estrangeiro branco ou negro, com estudo ou sem estudo, de São Paulo ou da Bahia, mas sempre forasteiro.


Ingenuidade normal, que faz parte do jogo de se pertencer a uma categoria minoritária mas sonhar com a inclusão. Assim como as musicistas de Auschwitz, somos todos sonhadores tentando ganhar a carteirinha do clube. No mais, só posso recomendar que assistam o filme.

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